Anália Franco
Anália Franco é um nome que se vincula a ruas, lojas, localidades… Mas, para além de se tornar conhecida pela toponímia das cidades brasileiras, Anália Franco é uma personalidade ímpar, que em sua encarnação na Terra nos brindou com um exemplo de trabalho e luz.
Anália Franco nasceu em Resende (RJ) no dia 10 fevereiro de 1856. Filha de professora auxiliava a mãe na classe com as crianças e queria desde cedo ser professora. Em 1878 completou seus estudos na Escola Normal de São Paulo. Educadora por excelência foi professora, escritora, poetisa, jornalista além de Republicana, abolicionista e feminista, posturas revolucionárias e desafiadoras para uma época na qual a mulher desfrutava de pouco espaço na sociedade.
Com a assinatura da Lei do Ventre Livre em 1871, todos os filhos de escravas nasciam livres, e como não eram negociáveis, acabavam sendo levados para a “Roda da Santa Casa de Misericórdia”. Em 1878 já eram muitos filhos de escravos expulsos das fazendas que perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas. Esta situação tocava profundamente o coração de Anália, que acabou se transferindo da cidade de SP para uma cidade do interior em socorro daquelas crianças sem mães.
Anália encontrou várias dificuldades para acomodar as crianças, mas ela nunca desanimou. Conseguiu alugar uma casa próxima a igreja pela metade de seu salário, mas o restante do dinheiro era insuficiente para a alimentação. Num domingo em que havia uma festa religiosa na praça, Anália apareceu levando consigo o grupinho de crianças que ela chamava carinhosamente em seus escritos, de “meus alunos sem mães“. Magra, modesta, mas altiva, aquela mulher impressionava ao mendigar para filhos de escravas.
Seu afastamento da cidade começou a ser objeto de consideração em rodas políticas. Mas surgiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas. Eles não só impediram seu afastamento, mas muitos a auxiliaram a cuidar das suas crianças. Mulheres ricas e esposas de fazendeiros passaram a auxiliá-la não só com dinheiro, mas com sua presença nos asilos e escolas, demonstrando a capacidade de sensibilização dessa nossa heroína.
Fundou e supervisionou mais de 70 escolas, creches e asilos para as crianças órfãs. Em 1902 criou o Liceu Feminino com a finalidade de formar professoras e supervisoras para atuarem nas escolas maternais e elementares que fundara, a maioria delas eram filhas das escravas que abrigara em seus asilos.
Em 1906 casou-se com Francisco Bastos, espírita, e com o tempo tornou-se uma espírita dedicada, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita.
Em 1911, sem qualquer recurso financeiro, adquiriu a Chácara Paraíso, onde fundou a Colônia Regeneradora D. Romualdo, internando ali, sob direção feminina, os garotos que viviam nos asilos, e escravos libertos que tinham aptidão para a lavoura e outras atividades agropastoris. Os meninos aprendiam uma profissão, e os produtos eram utilizados nas creches e asilos. Recolheu também na Colônia moças desviadas, preparando-as para vencerem dignamente na vida ensinando-as um ofício. Montou também uma Banda Feminina e um Grupo de Artes Dramática.
Com o surgimento da primeira guerra mundial, a dificuldade para manter as instituições era enorme. Anália organizou festas, pediu ajuda a antigos amigos, bateu a todas as portas e conseguiu remediar por um tempo a situação, mas os recursos chegaram ao fim. Acompanhada do Corpo Docente dos asilos e creches, de seu esposo, da Banda Feminina e do Grupo de Artes Dramática, fez uma ronda pelas cidades de SP objetivando angariar fundos para suprir as necessidades dos asilos, creches, escolas e demais entidades fundadas por ela, atitude que a deixou mais tranqüila.
No entanto a gripe espanhola que surgiu na Europa também chegava ao Brasil. Antevendo a catástrofe que estava para acontecer se não achassem uma saída, ela, recebendo a intuição do Alto, se junto a seu companheiro Bastos, e buscou o nosso médico-irmão, Jesus. Pediu que através da água, o remédio chegasse com a permissão de Deus, para assim cuidar de suas crianças, pois não tinha recursos para comprar remédios. Anália passou a reunir os voluntários nos quartos das crianças e também nas Instituições, orando e pedindo auxílio a Jesus e aos mentores espirituais. As águas ferviam nos recipientes e, após o gesto, demonstrando o poder da fé daquele coração maternal, as crianças e as mães da Colônia Regeneradora, assim como todas as criaturas que batiam às portas das Instituições, foram salvas. Somente algumas crianças que foram trazidas às escolas maternais com a gripe num estágio adiantado é que não conseguiram a cura.
Os angustiantes problemas que pesaram sobre sua alma para manutenção das instituições e as noites passadas em claro junto aos filhos de sua grande família enfraqueceram-lhe as forças orgânicas, levando-a a desencarnar na capital de SP em 1919. Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo.
A narrativa, singela, nos mostra um pouco do espírito de escol que foi Anália Franco, que pelo seu exemplo arrastou pessoas a causa do bem e que hoje, da espiritualidade, nos inspira e vela pelos trabalhos no bem que buscamos atuar em nossa passagem na Terra.